sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

AS BENÇÃOS DE ISRAEL E O QUE CABE À IGREJA

Texto Áureo: Ef. 1.3

Leitura Bíblica: Gl. 3.2-9

INTRODUÇÃO

Um dos maiores equívocos na interpretação bíblica é confundir as bênçãos do Antigo Pacto atribuindo-as ao povo do Novo Pacto. Existem bênçãos que cabem a Israel, e que são especificamente para esse, enquanto que outras são para a Igreja. Na lição de hoje estudaremos a respeito dessas bênçãos, com o princípio exegético de diferenciar entre àquelas que cabem a Israel e à Igreja.

1. BENÇÃOS NA BÍBLIA

No Antigo Testamento, as bênçãos – beraka em hebraico – indicam o ato de pronunciar coisas boas em direção a outrem (Gn. 27.38). Deus é a fonte da benção, pois Ele abençoou a Adão, Noé e Abrão (Gn. 12.2-3), Sara (Gn. 17.16), Ismael (Gn. 17.20), Isaque (Gn. 25.11), Labão (Gn. 30.27), Jacó (Gn. 32.29), o povo de Israel (Dt. 2.7), Sansão (Jz. 13.24), Jó (Jó. 42.12), o justo (Sl. 5.13) e todos aqueles que O temem (Sl. 115.13). Outras pessoas podem ser agentes das bênçãos de Deus, tal como o foi Isaque (Gn. 27.27), Jacó (Gn. 49.28), Moisés (Ex. 39.43), Arão (Lv. 9.22), Josué (Js. 14.13), Eli (I Sm. 2.20) e Esdras (Ne. 8.6). A maior benção para Israel, no Antigo Pacto, era a presença de Deus (Ne. 6.24-26). Mas a benção, para esse povo, estava condicionada à obediência (Dt. 7. 12-15; 28.1-68). As bênçãos de Deus para Israel incluíam: posteridade (Gn. 1.18; 9.1; 12.2.; 22.17; 26.4; 28.3; Dt. 7.13; Js. 17.14; Sl. 107.38), a posse da terra, bem como outros tipos de prosperidade material (Gn. 24.35; 26.3; 39.5; Dt. 2.7; 12.7; 15.4). As bênçãos de Deus foram prometidas a Abrão, neles seriam benditas todas as nações da terra (Gn. 12.1-3). Tais bênçãos trazem justiça (Sl. 24.5), vida (Sl. 133.3) e salvação (Sl. 3.8). No Novo Testamento, as bênçãos – eulogia em grego – em seu sentido geral – significa falar bem a alguém (Rm. 16.18). No sentido do Antigo Testamento, as bênçãos são recebidas de Deus (Rm. 15.29) tanto na esfera natural (Hb. 6.7) quanto sobrenatural (I Pe. 3.9). A maior benção da Igreja é a salvação (Gl. 3.14; Ef. 1.3) que pode ser rejeitada, tal como fez Esaú (Hb. 12.12-17). Quando Jesus ascendeu ao céu, Ele nos abençoou com a salvação (At. 3.26; Gl. 3.9). Paulo diz que em Cristo Deus nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais (Ef. 1.3,4).

2. AS BÊNÇÃOS PARA ISRAEL

As bênçãos de Deus para Israel faziam parte do Pacto que o Senhor tinha com essa nação, tendo em vista que Ele prometeu fazer de Abraão uma grande nação (Gn. 12.2) e dar a terra de Canaã por herança à sua posteridade (Gn. 17.8). Essa percepção de Israel enquanto nação é muito importante para a interpretação dos textos bíblicos que fazem alusão à prosperidade desse povo. Essa é uma benção prometida com exclusividade a Israel, que não cabe à Igreja (Dt. 28.8). O texto de I Cr. 7.14: “e se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se desviar dos seus maus caminhos, então eu ouvirei do céu, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra” tem sido indevidamente aplicado à Igreja, e o pior, a determinadas nações. O tratamento de Deus não é mais com uma nação ou com um povo geograficamente constituído. A nação escolhida por Deus, para ser testemunha da Sua revelação no Antigo Pacto, é Israel (Dt. 28.10). No futuro, por ocasião do Milênio (Ap. 20.1-10), Israel receberá as bênçãos que lhe compete e que ainda não se cumpriram. Esse será um tempo de abundância para esse povo e de prosperidade em todos os sentidos. Israel desfrutará de paz com as nações (Is. 9.6; Mq. 4.3-4; Lc. 2.13-14); a terra da palestina será ampliada (Is. 26.25), a topografia será alterada (Zc. 14.4), as chuvas cairão trazendo bençãos (Is. 41.18; Ez. 34.26; Jl. 2.23); as fontes e mananciais de águas serão abundantes (Ez. 47.1-11); Zc. 14.8), a terra produzirá muito (Is. 32.15; 35.1; Ez. 47.12; Am. 9.13), haverá paz e justiça em plenitude (Is. 32.16,17), até na criação (Is. 11.6-9; 65.25; Rm. 8.19-21). Essas são as bençãos que competem a Israel, mas não agora, pois tudo isso se concretizará no futuro, no reinado de Cristo (At. 14.22; I Co. 6:9-10; I Ts. 2.12; Tg. 2.5; II Pe. 1.11; II Tm. 4.1; Ap. 12.10).


3. AS BÊNÇÃOS PARA A IGREJA

Deus não trata, atualmente, com nações, isto é, com um povo delimitado por fronteiras geográficas. O povo de Deus, hoje, é a Igreja, a quem Pedro se refere como: “a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (I Pe. 2.9). As bençãos que competem à Igreja, por conseguinte, são diferentes daqueles que competem a Israel. A temporalidade era uma das marcas da benção de Deus para Israel. A Igreja do Senhor desfruta, neste tempo, de bençãos eternas, superiores as promessas dadas a Israel (Hb. 8.13; 10.34). As bençãos de Deus para a Igreja são plenas, espirituais, transcendem as de Israel, cujo foco estava na prosperidade material (II Co. 3.1-11). As bençãos do Novo Pacto incluem: a justificação (Gl. 2.16,21), o Espírito Santo (Gl. 3.2); a herança espiritual de ser filho de Deus (Rm. 8.14), a vida eterna (Rm. 8.2; Gl. 3.21) e a liberdade plena (Gl. 4.8-10; 5.1). As bençãos para a Igreja repousam na tensão entre o já e o ainda não (I Jo.3.1,2). Por isso, sabemos que o nosso tesouro não está na terra (Mt. 6.21), mas no céu, donde esperamos o Senhor Jesus Cristo (Fp.3.2). Por isso, precisamos permanecer nEle (Jo. 15.7), e, ao orar – não determinar – façamos com humildade, tendo o cuidado para não pedir mal, para esbanjar em deleites carnais (Tg. 4.3), levando em consideração a vontade soberana de Deus (I Jo. 5.14).


CONCLUSÃO

Alguns estudiosos da Bíblia interpretam indevidamente Gl. 6.16, argumentando que a Igreja se tornou o Israel de Deus, e que, por isso, tem parte nas bênçãos materiais a ele prometidas. Uma análise criteriosa dos textos bíblicos, alusivos a Israel e a Igreja, no Antigo e no Novo Testamento, a partir dos princípios hermenêuticos, mostrará que existem bênçãos distintas para Israel e para a Igreja. O equívoco do movimento pseudopentecostal é confundir essas competências e reivindicar o que Deus, definitivamente, não prometeu à Igreja.

Elaborado por: Pb. José Roberto A. Barbosa

BIBLIOGRAFIA

FOSTER, R. A liberdade da simplicidade. São Paulo: Vida, 2008.

RHODES, R. O livro completo das promessas bíblicas. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

OS FRUTOS DA OBEDIÊNCIA NA VIDA DE ISRAEL

Texto Áureo: Dt. 11.29

Leitura Bíblica: Dt. 11.26-32

INTRODUÇÃO

Israel poderia desfrutar da verdadeira prosperidade, mas, para tanto, deveria obedecer a Deus. Esse é um princípio estabelecido pelo Senhor na Aliança com o Seu povo. Um dos textos fundamentais que revela esse Concerto se encontra em Dt. 11, o qual será estudado na lição de hoje, a fim de compreender os frutos da obediência na vida de Israel enquanto nação. Ao final da lição, atentaremos para o papel da obediência no contexto da Igreja.

1. A OBEDIÊNCIA NO PACTO DE DEUS COM ISRAEL

A obediência é condição no pacto de Deus com Israel, por isso, o termo shama – obediência – ocorre 1.150 vezes em contextos que tem a ver com o ato de “escutar” ou “ouvir” à Palavra do Senhor. No Antigo Testamento, a orientação para a obediência é encontrada em Ex. 23.1; Dt. 13.4; 27.10; I Sm. 15.22. Existe uma benção geral para o povo de Israel ao dar ouvidos a Deus (Jó. 36.11), bem como na alegria em obedecê-lo (Gn. 26.5). Através da obediência, Israel confirmaria a sua Aliança com Deus (Ex. 19.5; 23.22; Dt. 11.27; 30.2,8; Jr. 7.23; 38.20; Zc. 6.15). A nação de Israel aceitou os termos desse Pacto, que fora reafirmado em Js. 24.24. A desobediência, por sua vez, resultaria na quebra do Concerto (Ex. 5.2; Jr. 3.13). Em decorrência dessa, Israel receberia o julgamento divino (Jz. 2.2; I Sm. 12.15; Jr. 12.17; 18.10). As punições que sobreviriam sobre Israel, pela desobediência ao Pacto, são identificadas em I Rs. 20.36; Ne. 9.17; Jó. 36.12. Maldições sobreviriam sobre o povo se este não se voltasse à obediência ao Senhor (Dt. 11.18; 28.62; Jr. 9.13; 11.8; 26.13; 42.13). Várias passagens bíblicas mostram as duras experiências que Israel enfrentou por causa da desobediência ao Senhor (Jz. 6.10; Dn. 9.11; Js. 5.6; II Rs. 18.12; Jr. 40.3).

2. FUNDAMENTOS PARA A OBEDIÊNCIA DE ISRAEL

A obediência a Deus tinha alguns fundamentos, primeiramente, era Deus quem determinava, portanto, não cabia a Israel questionar, pois Ele é o Senhor, por isso os verbos das passagens de Dt. 11 se encontram no imperativo: temer, andar, amar, servir e guardar (Dt. 11.12,13). A base para tais imperativos é o amor, palavra utilizada seis vezes por Moisés (Dt. 10.12,15,19; 11.1,13, 22). Moisés ensina ao povo a obedecer não apenas por temer, mas, principalmente, com o coração, isto é, por amor. O Deus de Israel era digno de ser obedecido, pois Ele é o Criador de todas as coisas (Dt. 11.14). Soberanamente, e em graça, Deus escolheu Israel e o retirou do jugo de opressão do Egito (Dt. 10.15,16). Deus não apenas elegeu Israel, Ele também cuida do Seu povo (Dt. 11.7). O cumprimento das promessas de Deus em relação a Israel é a prova dos seus cuidados. O Senhor prometeu a Abraão que faria dele uma grande nação (Gn. 13.14-16; 15.5; 22.17; 26.4). A terra entregue a Israel era de Deus, Ele é o Senhor da terra (Lv. 25.2, 23, 38). A terra que manava “leite e mel” estaria nas mãos daquele povo, contato que esse estivesse disposto a obedecer aos mandamentos de Deus. Mas Ele não era apenas o Deus da terra, mas também da chuva, pois se o povo se negasse a dar ouvidos à Sua Palavra, enfrentaria tempos de seca, tal como o descrito nos tempos do profeta Elias, quando o povo se voltou à adoração de Baal, o deus filisteu da produtividade (I Rs. 18.16). A situação somente seria revertida quando a nação se arrependesse dos seus pecados e se voltasse para o Senhor (Dt. 28.23,24; II Cr. 7.12-14; Dt. 11.12). Diante de Israel, portanto, estava posta a condição: se obedecesse ao Senhor, Ele o abençoaria, caso O desobedecesse, seria castigado.

3. A OBEDIÊNCIA NA ALIANÇA DE DEUS COM A IGREJA

Na Aliança de Deus com a Igreja, através de Cristo, a obediência também tem sua relevância. A princípio, é preciso destacar que a obediência – hypakiê em grego – é um ato de fé, uma resposta positiva e confiante em Cristo (Rm. 1.5;15.18). Os crentes, na condição de seguidores do Senhor, devem viver em obediência (I Pe. 1.2), pois esses são reconhecidos como filhos da obediência (I Pe. 1.14). O autor da Epístola aos Hebreus, ao conclamar seus leitores a serem fiéis ao Senhor, mesmo em meio à adversidade, destaca o exemplo de Abraão na obediência (Hb. 11.8), por isso é através da obediência a Cristo que o crente é conduzido à salvação (Hb. 5.9). A base para a obediência da Igreja, consoante ao que fora revelado aos israelitas em Dt. 11, é o amor, isso porque o cumprimento da Lei é o amor (Rm. 13.10), a disposição para fazer a vontade de Deus deva partir do coração, não apenas da imposição de regras externas (Ef. 6.6). O sinal exterior da obediência de Israel era a circuncisão, mas para a Igreja, a obediência é uma disposição espiritual, produzida pelo Espírito Santo (Fp. 3.1-10; Cl. 2.9-12). Essa condição cristã é concretizada na medida em que o crente abandona o pecado e se torna nova criatura em Cristo (Cl. 2.11), ratificada pela presença do Espírito Santo em sua vida (Ef. 1.13; 4.30; Rm. 8.9, 16).

CONCLUSÃO

O povo de Israel deveria viver a partir das orientações entre os dois montes Gerezim e Ebal (Dt. 27-28). O Monte Ebal é considerado o monte das maldições e o Gerezim o monte das bênçãos. Na medida em que cada maldição era proferida, o povo no Monte Ebal diziam “Amém”, significando, “assim, seja, eu concordo”, afirmando as condições do Pacto. Após cada benção ser lida, as tribos do Monte Gerezim declaravam solenemente: Amém. A Igreja do Senhor se encontra também entre dois montes, o Calvário, onde Jesus morreu por nós, e o das Oliveiras, para o qual um dia Ele retornará (Zc. 14.4; At. 1.11,12). Fazemos parte de uma Nova Aliança, não escrita em pedras, mas em nossos corações em Cristo Jesus (II Co. 2.1-3; Hb. 8; Ef. 1.3), por isso, vivemos debaixo da graça, mas isso não quer dizer que temos licença para pecar (Rm. 6.1-14), antes obedecemos em amor, a concupiscência da carne é subjugada pela justiça de Deus, através do Seu Espírito, em nós (Rm. 8.4).

Elaborado por: Pb. José Roberto A. Barbosa

www.subsidioebd.blogspot.com

Twitter: @subsidioEBD

BIBLIOGRAFIA

LOPES, H. D. Dinheiro: a prosperidade que vem de Deus. São Paulo: Hagnos, 2009.

ZUCK, R. B. Teologia do Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.

Fonte: www.subsidioebd.blogspot.com

domingo, 1 de janeiro de 2012

LIÇÃO 01 - A PROSPERIDADE NO ANTIGO TESTAMENTO

Texto Áureo: Gn. 39.3
Leitura Bíblica: Dt. 8.11-18



INTRODUÇÃO
Interpretar os textos bíblicos no contexto, inclusive o histórico-teológico, é condição para a apropriada aplicação das verdades bíblicas. Os adeptos da Teologia da Prosperidade (ou da Ganância) utilizam passagens descontextualizadas (e isoladas) do Antigo Testamento para justificarem suas doutrinas. Para evitar tais equívocos, estudaremos, na aula de hoje, sobre como o Antigo Testamento aborda a questão da prosperidade, destacando que, mesmo no Antigo Pacto, a posse de bens materiais implicava em responsabilidade, em uma dimensão ética.

1. RIQUEZA E PROSPERIDADE NO ANTIGO TESTAMENTO
A abordagem em relação à riqueza no Novo Testamento é distinta daquela apresentada no Antigo Testamento. No Novo Testamento os textos que se referem à riqueza são geralmente negativos, diferentemente daqueles da Antiga Aliança. Isso porque no Antigo Testamento, no pacto de Deus com Israel, a riqueza é algo desejável e agradável a Deus para o Seu povo. Essa distinção não costuma ser percebida pelos pregoeiros da Teologia da Prosperidade (ou da Ganância). Eles adoram propagar nos canais de televisão que Deus abençoou Abraão e que, do mesmo modo, pretende enriquecer aqueles que os seguirem. Mas é preciso atentar para o papel da riqueza e da pobreza no Antigo Testamento, especialmente no que tange a Abraão. Tanto esse servo de Deus quanto Jó podem ser categorizados entre os ricos justos, isto é, eles não colocaram sua confiança na riqueza, mas em Deus, por isso, no caso de Abraão, este deixou sua parentela, a cidade de Ur onde morava e partiu em busca de uma terra que o Senhor prometeu. Na medida em que Abraão sai, ele abre mão das suas riquezas, demonstrando, assim, que não dependia da prosperidade material, isso fica evidente na disputa entre os pastores de Ló, sobrinho de Abraão, e os seus pastores. Em uma atitude de confiança em Deus, Abraão deixa que Ló escolha o lado para o qual pretende ir. Uma das provas bíblicas de que Abraão não se fiava na riqueza se encontra em Gn. 14.21-24 onde está registrado o encontro deste com o rei de Sodoma. Abraão não quis o enriquecimento que não viesse do Senhor, ele sabia fazer a diferença entre a benção de Deus e a prosperidade dos homens. Jó é outro exemplo de rico justo no Antigo Testamento, ele é reconhecido pelo próprio Satanás que Deus o abençoou com bens materiais. O Inimigo questiona se a causa do amor de Jó a Deus não está baseado nas riquezas. Jó demonstra, em sua experiência provada, que ainda que morra não deixará de confiar em Deus. Quando a riqueza e a prosperidade material toma o primeiro lugar, o homem se distancia de Deus, isso pode ser comprovado nas atitudes de Salomão. Este monarca, em sua riqueza e prosperidade, se torna motivo de glória para o reino, mas ao contrário de glorificar a Deus, se torna opressão para os filhos de Israel.

2. AS CONDIÇÕES PARA A RIQUEZA NO ANTIGO TESTAMENTO
De acordo com a revelação do Antigo Testamento, é Deus o verdadeiro proprietário das riquezas, por isso, Ele a entrega a quem deseja. É neste sentido que Salomão admite que “na mão direita, a sabedoria lhe garante a vida longa; na mão esquerda, riqueza e honra” (Pv. 3.16). Ana, em sua oração, também reconhece que “O Senhor é quem dá pobreza e riqueza; ele humilha e exalta” (I Sm. 2.7). Davi assim também expressa em sua oração: “Ó Senhor nosso Deus, toda essa riqueza que ofertamos para construir um templo em hora ao teu santo nome vem das tuas mãos, e toda ela pertence a ti” (I Cr. 29.16). No Antigo Testamento, a riqueza deva ser compreendida como benção de Deus, mas sua utilização tem uma dimensão ética. Por isso Ezequiel questiona o príncipe de Tiro quando esse se vangloria ao dizer “eu me enriqueci” (Ez. 29.3). Mesmo no Antigo Testamento não é correto desejar as riquezas, considerando que o Senhor destacou que Salomão foi distinto ao não pedir “uma vida longa nem riquezas” (I Rs. 3.11). Não é certo requerer riqueza de Deus, por isso, destaca o sábio: “Não me dês nem pobreza nem riqueza; dá-me apenas o alimento necessário” (Pv. 30.8). E ainda “Não esgote suas forças tentado ficar rico; tenha bom senso! As riquezas desaparecem assim que você as contempla; elas criam asas e voam como águias para o céu” (Pv. 23.4,5), e mais: “Quem tenta enriquecer-se depressa não ficará sem castigo” (Pv. 28.20). Paradoxalmente, as pessoas, atualmente, exaltam aqueles que enriqueceram, ainda que os meios sejam escusos. O enriquecimento não deve ser, desde a Antiga Aliança, um fim em si mesmo, ter dinheiro, por sua vez, acarreta em responsabilidade. O orgulho proveniente das riquezas pode conduzir as pessoas para distante de Deus, ao invés de aproximá-las dEle. Os profetas denunciaram com coragem o amor às riquezas: “Efraim orgulha-se e exclama: ‘Como fiquei rico e abastado! Em todos os trabalhos que realizei não encontrarão em mim nenhum crime ou pecado’” (Os. 12.8), sem dar a devida atenção para o “Mas” de Deus (Os. 12.9). Deus não se deixa impressionar com aqueles que adquirem riquezas para si, e põem a confiança no dinheiro, principalmente quando tal prosperidade vem por meios injustos. Em Pv. 13.11 está escrito que “O dinheiro ganho com desonestidade diminuirá, mas quem o ajunta aos poucos terá cada vez mais”. Sabemos que da perspectiva exegética, os Provérbios não podem ser generalizados, mas fica evidenciada, no texto, a insatisfação de Deus com a riqueza acumulada indevidamente. Apropriada a palavra profética: “O homem que obtém riquezas por meios injustos é como o perdiz que choca ovos que não pôs. Quando a metade da sua vida tiver passado, elas o abandonarão, e, no final, ele se revelará tolo (Jr. 17.11). Os teólogos da Teologia da Prosperidade (ou da Ganância) não leem os escritos proféticos, apenas os históricos, se assim fizessem, perceberiam que Deus condena Israel porque “vendem por prata o justo, e por um par de sandálias o pobre” (Am. 2.6). Eles não poupam os juízes e os sacerdotes, já que “seus líderes julgam sob suborno, seus sacerdotes ensinam visando o lucro, e seus profetas adivinham em troca de prata. E ainda se apoiam no Senhor” (Mq. 3.11). Quantos hoje dizem servir a Deus, mas agem apenas com interesse no dinheiro, o $erviço cristão, em alguns contextos eclesiásticos, é escrito com cifrão. O dinheiro conduz a uma falsa segurança (Pv. 10.$5) e leva seus adoradores a desejarem sempre mais (Ec. 5.10). Os que vivem regaladamente hoje, usufruindo de recursos indevidos, receberão, no tempo devido, o julgamento de Deus, pois “de nada vale a riqueza no dia da ira divina” (Pv. 11.4).

3. RECOMPENSA E BENÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO
No Antigo Testamento, a riqueza é uma recompensa pela fidelidade a Deus, isso percebemos no caso de Josafá, quando o Senhor firmou o seu reino por causa da obediência a Deus, mas, principalmente, pelo uso apropriado dos pertences (II Cr. 17). A sociedade contemporânea, fundamentada em um capitalismo selvagem, idolatrou o acúmulo de riquezas. Os heróis do presente não são aqueles que agem com generosidade, mas os que retêm tudo que podem exclusivamente para eles. Os bilionários se tornaram os deuses do presente, o Mercado assumiu o trono no coração de muitos, a bolsa de valores determina as ações das pessoas. Versículos isolados do Antigo Testamento não podem ser utilizados irresponsavelmente para justificar a opressão e a pobreza. Os adeptos da Teologia da Prosperidade (ou da Ganância) gostam de citar Pv. 10.22, argumentando que “A benção do Senhor traz riqueza”, mas esquecem que “A riqueza dos sábios é a sua coroa” (Pv. 14.24) e que “A recompensa da humildade e do temor do Senhor são a riqueza, a honra e a vida” (Pv. 22.4). Os livros de sabedoria, dentre eles Salmos e Jó, explicitam a natureza da prosperidade e põem a ênfase sobre o temor ao Senhor: “assim são os ímpios, despreocupados, aumentam suas riquezas” (Sl. 73.12) e “não confiem na extorsão, nem ponham a esperança em bens roubados; se as suas riquezas aumentam, não ponham nelas o coração” (Sl.62.10). A riqueza e a prosperidade é uma concessão de Deus, mas somente em sentido amplo, pois os ricos podem ajuntar bens, apenas para confiar neles e se distanciar do Senhor. Por isso, “os ímpios passam a vida na prosperidade e descem à sepultura em paz. Contudo, dizem eles a Deus: ‘deixe-nos! Não queremos conhecer os teus caminhos. Quem é o Todo-poderoso, para que o sirvamos? Que vantagem temos em orar a Deus? (Jó. 21.7-15). O rico tem uma propensão a confiar em suas riquezas, e a depender daquilo que conseguiu acumular, vive como se Deus não existisse, e se acredita nEle, não põe nEle sua confiança.

CONCLUSÃO
No Antigo Testamento, a riqueza é uma dádiva de Deus, mas precisa ser utilizada com cautela, pois implica em responsabilidade. A riqueza não pode ser vista como uma propriedade pessoal, ela está na dimensão do sagrado, na relação com o outro. Por isso, para Israel, sua plenitude tem uma dimensão escatológica, tendo em vista que, no futuro, “se alimentarão das riquezas das nações, e do que era o orgulho delas vocês se orgulharão” (Is. 61.1). Mas isso não é para agora, se cumprirá por ocasião do Milênio, nada tem a ver com a Igreja contemporânea, como apregoa a Teologia da Prosperidade. Por enquanto, na fatura ou na necessidade, devemos admitir, conforme foi revelado a Abraão, que o Senhor, e somente Ele, é nossa Recompensa (Gn. 15.1).

Elaborado por: Pb. José Roberto A. Barbosa

BIBLIOGRAFIA
ELLUL, J. O homem e o dinheiro. Brasília: Palavra, 2008.
FOSTER, R. J. Dinheiro, sexo e poder. São Paulo: Mundo Cristão, 2005.

Fonte: Subsidiosebd@blogspot.com