quinta-feira, 24 de maio de 2012

LAUDICEIA, UMA IGREJA MORNA


Texto Áureo: Mt. 6.33
Leitura Bíblica: Ap. 3.14-22


INTRODUÇÃO
Estudaremos, nesta aula, a carta à sétima igreja, a que ficava em Laodiceia. Veremos que se tratava de uma igreja morna, caracterizada pelo faltar de ardor espiritual. A princípio, apresentaremos a igreja em seu contexto histórico-geográfico, em seguida, caracterizaremos a sua mornidão, resultante da opulência. Ao final, mostraremos a necessidade da igreja arrepender-se, e buscar as riquezas celestiais.

1. A IGREJA DE LAODICEIA
A cidade de Laodiceia foi fundada em 250 a. C., por Antíoco da Síria, e se destacava pela sua localização. Ela ficava no meio de duas grandes rotas comerciais, famosa por sua riqueza e ostentação. A cidade de Laodiceia era a preferida pelos milionários, a efervescência cultural atraia a muitos, tinha teatros, estádios, ginásios. A prosperidade financeira era a principal motivação de muitos que se dirigiam àquela localidade. O desenvolvimento contribuiu para a produção de manufatura de tecidos e do avanço da medicina. A imponência da cidade era tanta que se vangloriava de ter se reerguido rapidamente, após a sua destruição, em 60 d. C., sem o auxílio governamental. O poderio de Laodiceia era tamanho que ela favorecia as cidades vizinhas quando essas eram atingidas por terremotos. O império romano guardava ali ouro, prata e moedas, homens de negócios viajavam para a cidade a fim de auferir lucros. As fábricas produziam lã e linho finíssimos, grandes centros médicos podiam ser encontrados em Laodiceia. Sua escola de medicina era a melhor da época, atraia estudantes de várias localidades. A igreja de Laodiceia estava contextualizada a essa realidade, ao invés de transformar a cidade, esta estava moldando a igreja. Os cristãos de Laodiceia viviam a partir da sua prosperidade material. Acabaram por desenvolver uma sensação de autossuficiência, a religiosidade era aparente, não havia fervor espiritual, a mornidão imperava. A igreja se assemelhava a água da cidade, que, em virtude da escassez, vinha de Hierápolis, saindo de lá quente, mas chegando a Laodiceia morna.

2. UMA IGREJA MORNA
A essa igreja morna Jesus se apresenta como o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de Deus (Ap. 3.14). Como o Amém, Ele é a confirmação de todas as profecias, o cumprimento dos arautos divinos (Lc. 24.44). Sendo a testemunha fiel e verdadeira, Ele é Aquele que tem a Palavra, que fala com propriedade a respeito do Pai (Hb. 1.1,2). Ele também é o Princípio da criação de Deus, mas não é criado, pois tudo existe a partir dEle e sem Ele nada do que foi feito se fez (Jo. 1.3). Jesus conhece as obras das igrejas, sabem com que intenção elas são feitas. No caso de Laodiceia, diz o Senhor, “nem és frio nem quente, oxalá foras frio ou quente! Assim, porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca” (Ap. 3.15). A igreja de Laodiceia multiplicou a iniquidade, por causa disso, o amor se esfriou (Mt. 24.12), perdeu o interesse pela Palavra, não tinha mais ardor quando o evangelho era partilhado (Lc. 24.32). A igreja cristã deve saber que o fervor espiritual pode se apagar, por isso precisa ser alimentado (Rm. 12.11; At. 18.25; II Tm. 1.6). A igreja não se definia, nem era fria nem quente, era morna. As águas da cidade haviam perdido sua propriedade terapêutica, porque não eram mais quentes. Do mesmo jeito, os crentes da igreja perderam o entusiasmo. A perda da essência favoreceu o culto à exterioridade. Eles se vangloriavam: “rico sou, estou enriquecido e de nada tenho falta” (Ap. 3.17). Muitas igrejas atuais, como a de Laodiceia, perderam o fervor, são igrejas mornas, e como perderam a espiritualidade, sobrevivem da opulência financeira. Templos vultosos, cultos marabalísticos, “pastores” que mais parecem animadores de auditório, danças pirotécnicas, tudo para camuflar a ausência de ardor espiritual. A avaliação de Jesus parte de outros parâmetros: “e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e cego e nu” (Ap. 3.17). A igreja que ostentava riqueza era desgraçada e miserável; que vivia cercada de uma medicina avançada, com a produção de colírios eficientes para os olhos, era cega; que produzia tecidos caríssimos, se encontrava espiritualmente nua.

3. CONSELHO AO FERVOR
A essa igreja desgraçada, miserável, pobre, cega e nua, Jesus a admoesta: “aconselho-te que de mim compres outro provado no fogo, para que te enriqueças; e vestidos brancos, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez, e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas”. Mais valioso que outro é a fé do crente, e essa deva ser provada no fogo (Tg. 1.2-4), e mais importante que roupas caras, luxuosas de grife, são as vestes da justiça dos santos (Ap. 19.8). Em meio a tanto consumismo, os crentes são admoestado pelo Senhor a investirem em valores que permanecem para sempre (Is. 55.1). A igreja de Laodiceia, com os seus muitos bens, achava que tinha tudo, que nada lhe faltava. O problema da ostentação é que ela é contagiosa, uma igreja que sobrevive da riqueza contamina as outras. Existem muitas igrejas no Brasil que vivem se comparando, para saberem quem são as mais ricas. Há crentes que avaliam uns ao outros pela congregação que frequentam. Esse sentimento, ao invés de ter a aprovação de Cristo, Lhe provoca náuseas. Mas ainda há esperança, assim diz o Senhor Jesus: “Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê pois zeloso e arrepende-te”. Uma igreja repreendida por Cristo cresce espiritualmente, pois Seu castigo é demonstração de amor (Hb. 12.5-11). O resgate do fervor passa pelo arrependimento, aquele que confessa seus pecados e os deixa alcançará a misericórdia do Senhor (Pv. 28.13). Ele está a porta e bate, diz Ele, “se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei e ele comigo” (Ap. 3.20). Muitos pregadores dirigem esse versículo aos descrentes, mas é digno de destaque que ele é destinado a uma igreja. A igreja tinha tudo, mas lhe faltava o principal, Jesus Cristo, critério para que ela fosse, de fato, ekklesia (Mt. 16.18).

CONCLUSÃO
Os que vencerem recebem, do Senhor, a promessa de que se assentarão, com Ele, no Seu trono (Ap. 3.21). Um dia os santos reinarão com Cristo na terra, por ocasião do Milênio (Mt. 19.28; I Co. 6.38; Ap. 20.4). A maior riqueza do crente não está no perecível, seu tesouro se encontra na eternidade (Mt. 6.20). De nada adianta ganhar o mundo inteiro e perder a alma (Mc. 8.36), onde estiver o tesouro do crente, ali também estará o seu coração (Lc. 12.34), o amor às riquezas tem conduzido muitos a ruinas (I Tm. 6.6-10). Portanto, quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas.

Elaborado por: Prof. José Roberto A. Barbosa

BIBLIOGRAFIA
FÁBIO, C. O apocalipse das igrejas. São Paulo: Abba Press, 2009.
LOPES, H. D. Ouça o que o Espírito diz às igrejas. São Paulo: Hagnos, 2010.


sábado, 5 de maio de 2012

TIATIRA, A IGREJA TOLERANTE


Texto Áureo: II Co. 6.14,15
Leitura Bíblica: Ap. 2.18-25

INTRODUÇÃO
Dentre as igrejas da Ásia Menor, uma se destaca pela tolerância ao pecado. Na aula de hoje estudaremos a respeito dessa igreja, a de Tiatira, sua contextualização histórica, sua condescendência com o pecado, e, ao final, o apelo de Cristo para que essa igreja passe a viver em santidade. Esse apelo se aplica, pela Palavra e o Espírito, às igrejas contemporâneas, a fim de que não convivam naturalmente com a prática do pecado.

1. A IGREJA DE TIATIRA
Tiatira era uma cidade que tinha posição geográfica privilegiada, pois estava localizada no percurso do correio imperial. Por isso, toda a movimentação comercial entre a Europa e a Ásia passava por aquele caminho. O comércio assumia posição de destaque com a produção de lã, couro, linho, bronze, tinturaria e alfaiataria em geral.  As divindades pagãs eram adoradas em meio a esse comércio. Para não perderem dinheiro, muitos cristãos faziam pactos com as agremiações comerciais, comprometendo sua espiritualidade. Alguns estudiosos acreditam que Lídia, uma das mais notáveis convertidas de Filipos, teria retornado a sua terra, Tiatira, a fim de auxiliar na formação de uma igreja naquela cidade (At. 16.14). A igreja de Tiatira é reconhecida por Cristo pelas obras, serviço, fé e paciência (Ap. 2.19). Essas são qualidades fundamentais à fé cristã, características que faltavam à igreja de Éfeso, tendo em vista que essa havia esfriado no primeiro amor, e demonstrava fidelidade, uma das fragilidades de Pérgamo, ainda que, como Esmirna, havia aprendido a perseverar diante das tribulações. O fundamento de tais virtudes, conforme expõe Paulo aos tessalonicenses, é o Senhor Jesus Cristo (I Ts. 1.3). É assim que o amor verdadeiro resulta em serviço genuíno que alimenta a esperança, mesmo em meio às tribulações. Enquanto que Éfeso estava em uma situação pior que a do início, a de Tiatira era o inverso, essa crescia em obras, de modo, conforme atesta o Senhor, suas “últimas obras são mais do que as primeiras” (Ap. 2.19). Tratava-se, portanto, de uma igreja que estava crescendo em obras, sua prática cristã estava em progressão, e não em declínio.

2. UMA IGREJA QUE TOLERA O PECADO
O problema de Tiatira era a tolerância com o pecado, e Jesus, sendo Aquele que “tem os olhos como chama de fogo e os pés semelhantes ao latão reluzente” (Ap. 2.18), não pode tolerá-lo. Ele repreende essa igreja por tolerar uma falsa profetiza que conduzia o povo a pecar tal como a Jezabel do Antigo Testamento, cujo nome significa, “puro, casta”. Jezabel foi responsável por introduzir o culto pagão a Baal entre os israelitas. Além de patrocinar o paganismo, ela ainda perseguiu os profetas de Deus. Quando Jezabel se casou com o rei Acabe, ela se encarregou de infiltrar, no culto judaico, elementos da sua religiosidade. Sob a influência da sua esposa, o rei Acabe construiu um templo a Astarte, a consorte de Baal, em Samaria e passou a sustentar 850 profetas em atividades cultuais que envolviam a imoralidade (I Rs. 16.30-32; 18.4; 19; 21.25). Essa nova Jezabel, a quem Jesus reprova em Sua carta à Tiatira, fundamenta-se no gnosticismo, um movimento filosófico-religioso que negava a matéria e incitava ao abuso do corpo, por considerar que esse seria destruído depois da morte. Essa mulher, que se dizia profetiza, ensinava e enganava os servos de Jesus, para que esses se prostituíssem e comessem dos sacrifícios da idolatria (Ap. 2.20).  A igreja de Éfeso odiava as práticas dos nicolaítas e não as tolerava (Ap. 2.2,6), a de Pérgamo tinha alguns que suportavam a doutrina de Balãao e dos nicolaítas (Ap. 2.15,16), mas a de Tiatira passou a tolerá-los, isto é, a conviver normalmente com suas atitudes no seio da igreja (Ap. 2.20). Como nestes dias, muitas igrejas estão fazendo “vista grossa” em relação ao pecado, a disciplina parece ser um assunto descartado, a busca pelo politicamente e juridicamente correto está solapando a moralidade das igrejas. Os cristãos não podem mais viver em pecado, pois morreram para ele (Rm. 6.1,2), a disciplina, em amor, é saúde não apenas para a igreja, mas para o próprio disciplinado (I Co. 11.20-32; Rm. 12.15; Hb. 12.11).

3. UM APELO À SANTIDADE
Jesus deu tempo para que essa Jezabel “se arrependesse da sua prostituição”, mas ela “não se arrependeu” (Ap. 2.22). Essa é uma demonstração de que Deus não tem prazer na morte do ímpio, antes espera que ele se arrependa, e seja salvo (II Pe. 3.9; I Tm. 2.4). Mas há limite, pois o juízo virá, ainda que não seja agora, mas no tempo determinado por Deus, quando Cristo colocar todos os inimigos debaixo de seus pés (I Co. 15.25), o dia da ira do Cordeiro (Ap. 6.17). A cama da promiscuidade estabelecida por Jezabel se transformará numa cama de sofrimento, de tribulação. Jesus é longânimo, dar tempo para que o pecador se arrependa, mas Ele tem poder para antecipar o julgamento, como fez com Ananias e Safira (At. 5), e ferir de morte aos filhos de Jezabel, como disciplina para que todas as igrejas saibam que Ele é Aquele que “sonda as mentes e os corações. E que dá a cada um segundo as suas obras” (Ap. 2.23). A irreverência na celebração da Ceia do Senhor levou muitos à morte (I Co. 11.17-32), pois não se pode profanar aquilo que é sagrado, o que fora santificado por Deus. O próprio corpo é templo e morada do Espírito Santo, por isso, devamos separá-lo para a glória dAquele que nele habita (I Co. 6.19,20). Felizmente, nem todos se dobraram diante da doutrina de Jezabel, alguns não tinham esse ensinamento, outros, melhor ainda, não quiseram conhecê-lo (Ap. 2.24). Adão e Eva poderiam ter desfrutado da presença de Deus, caso não quisessem se apropriar do fruto da arvore do conhecimento do bem e do mal (Gn. 2.17). Nem tudo deve ser experimentado, o ensinamento da Palavra de Deus é suficiente para sabermos o que pode nos distanciar do centro da vontade de Deus, que é boa, perfeita e agradável (Rm. 12.1,2).

CONCLUSÃO
A vontade de Deus é a nossa santificação (I Ts. 4.3), pois Deus nos escolheu para que sejamos santos (Ef. 1.4). Não podemos esquecer que os puros de coração verão a Deus (Mt. 5.8) e que sem a santificação ninguém verá ao Senhor (Hb. 12.14). Aquele que assim proceder receberá a promessa de Jesus de que julgará os ímpios e reinará com Ele (Ap. 2.26,27). Como lembrou Paulo aos coríntios, os santos julgarão o mundo (I Co. 6.2), isso se dará no futuro, quando Cristo vier reinar (Ap. 12.5; 19.15). Esses receberão também a estrela da manhã, isto é, conhecerão a Cristo, que assim se identifica em Ap. 22.16. Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas.

Elaborado por: Prof. José Roberto A. Barbosa

BIBLIOGRAFIA
GUNTER II, D. M. Seven letters to seven churches. Kansas: Beacon Hill Press, 2011.
STOTT, J. O que Cristo pensa da igreja. Campinas: United Press, 1999.