Leitura Bíblica:
Fp. 3.1-10
INTRODUÇÃO
A seção da Epístola aos Filipenses 3.1-10 está
repleta de conselhos. Paulo apresenta algumas considerações práticas aos
crentes filipenses. Essas orientações são bastante pertinentes e atuais para a
igreja da atualidade. Depois de admoestar os irmãos a que sejam alegres no
Senhor (Fp. 3.1), faz algumas advertências em relação aos falsos mestres, e por
último, caracteriza o genuíno evangelho de Jesus Cristo.
1. EM RELAÇÃO AOS FALSOS MESTRES
A igreja de Jesus Cristo sempre foi atacada por
falsos ensinamentos, entre os filipenses os falsos mestres tentaram disseminar
suas heresias entre os cristãos. Por isso Paulo os admoesta, por três vezes, a
que esses tivessem cuidado. O verbo grego, no imperativo, é blepete, isto é,
“acautelai-vos”, que tem o significado de manter os olhos abertos para que os
falsos lobos não adentrem ao rebanho (AT. 20.29,30). Esses falsos mestres
precisavam ser identificados, por isso Paulo os descreve como cães, falsos
obreiros e falsa circuncisão. Trata-se de um grupo já conhecido entre os
crentes da Galácia, que queriam incluir um falso evangelho no interior do
verdadeiro evangelho (Gl. 1.1-9). A característica marcante desse outro
evangelho era a defesa da circuncisão, isto é, da observância aos rituais
judaicos como meio de justificação (At. 15.1). Esses judaizantes atacavam
frontalmente a doutrina da salvação, contrariando a graça de Deus em Jesus
Cristo. A preocupação do Apóstolo é denunciar esse ensinamento distanciado da
verdade (II Co. 11.13). Esses maus obreiros seguiam Paulo em suas viagens
missionárias, despregando aquilo que o Apóstolo havia pregado (I Co. 11.13). O
perigo desse outro evangelho é a desconsideração da doutrina da salvação pela
graça, por meio da fé, proveniente de Deus, não das obras humanas (Ef. 2.8,9).
O ser humano, em sua religiosidade, sempre quis obter a salvação pelos seus
méritos pessoais. A igreja evangélica não está imune a esse tipo de
ensinamento, há quem pense que é salvo simplesmente pelas exterioridades
formalistas que observam. As pessoas que entram por esse caminho transformam o
que é principal em secundário, acabam supervalorizando os detalhes ao invés do
que é mais valioso. Jesus repreendeu veementemente os fariseus do seu tempo por
filtrarem um mosquito e engolirem um elefante, chamando-os de sepulcros caiados
(Mt. 23.27-28.). A circuncisão pregada por esses religiosos não passava de
mutilação, pois não tinha qualquer valor espiritual, diferentemente da
circuncisão de Abraão (Gn. 17.9,10; Rm. 4.11-13).
2. EM RELAÇÃO À IGREJA DO SENHOR
A igreja do Senhor não pode ser confundida com uma
mera religiosidade, ela apresenta características distintas do movimento dos
judaizantes. A verdadeira igreja de Cristo passou por uma circuncisão
espiritual, efetuada no coração, não por homens, mas pelo Espírito Santo (Fp.
3.3). A adoração a Deus não resultante de uma imposição humana, não é por
força, muito menos por violência, mas uma disposição espiritual, não está
fundamentada na carne. Fomos chamados para adorar, na verdade, Deus busca
adoradores, mas que o façam em espírito e em verdade (Jo. 4.24). A adoração não
pode ser realizada de qualquer modo, a religião humana, na busca por Deus,
resulta na idolatria (Rm. 1.25-27). A adoração, revelada por Deus, está
alicerçada na Verdade, que é Cristo, a Palavra (Jo. 1.1,18) , e no Espírito,
que nos liga a Deus, reconhecendo-O como Pai (Rm. 8.15). Por isso, a fé do
crente está depositada em Cristo, em Seu sacrifício na cruz do calvário, não na
religião humana, que não passa de carnalidade. Ele é o nosso Alvo, Aquele no
Qual nos gloriamos (I Co. 1.31; II Co. 10.17). Os falsos mestres, e os
religiosos em geral, confiam naquilo que fazem, em seus méritos, na capacidade
que acreditam ter em satisfazer a Deus. A igreja, diferentemente da
religiosidade humana, sabe que a salvação veio de Deus, e que em nenhum outro
nome há salvação, senão no de Cristo Jesus (Jo. 14.6; At. 4.12). Paulo
esclarece que se a religião valesse alguma coisa ele mesmo teria motivos para
se orgulhar. Com judeu ele tinha alguns privilégios, mas os abandonou por causa
de Jesus Cristo. Ele era circuncidado ao oitavo dia, portanto nasceu judeu,
sendo criado na tradição judaica (Fp. 3.4). Paulo fazia parte do povo eleito, o
povo considerado privilegiado, mas não sustentava a sua fé nesse predicado.
Mesmo sendo da tribo de Benjamim, sendo essa uma das mais importantes de Judá,
não via nisso qualquer glória (Fp. 3.5). Como se isso não fosse o bastante, era
hebreu de hebreus, ou seja, por nascimento, e que falava hebraico (At. 21.40).
Em sua religiosidade fazia parte dos fariseus, a mais zelosa tradição judaica
(Gl. 1.14), por isso tinha na mais alta consideração a Lei do Senhor (At. 23.6;
26.5). Por causa disso, tornou-se perseguidor da igreja, sua religião, como
geralmente costuma acontecer, fez com que ele perseguisse os cristãos (At.
9.1,2; 22.1-5; 26.9-15; I Co. 15.9; Gl. 1.13). Aos olhos humanos Paulo era um
homem de considerável reputação, considerado irrepreensível no tocante à guarda
dos princípios legais. Mas faltava-lhe um em encontro com Cristo que o transformou
de perseguidor em perseguido, que o fez considerar as pessoas não a partir de
formalidades exteriores.
3. EM RELAÇÃO AO EVANGELHO DE CRISTO
O evangelho de Jesus Cristo não é uma mera
circuncisão física, não se trata de uma formalidade. Como israelita influente é
bem provável que Paulo tivesse privilégios no contexto religioso no qual estava
inserido. Mas a tudo perdeu por amor a Cristo, no mínimo deixou de gloriar-se
daquilo que fazia, passou a confiar no que Jesus fez. O evangelho é mais importante
do que exterioridade religiosas. Por isso, ninguém deve achar que é salvo por
que faz ou deixa de fazer algo. Não podemos incorrer no equívoco de pensar que
nossa salvação depende de vestimenta, postura física, ou coisa parecida. Isso
na verdade pode revelar ausência de uma espiritualidade genuína, carnalidade da
qual os religiosos se gloriam (Cl. 2.21). O evangelho é mais que um conjunto de
doutrinas, trata-se de um encontro real com uma pessoa, o próprio Jesus Cristo
(Fp. 3.8). Muitas igrejas atuais estão sofrendo porque as pessoas estão
alicerçadas nas atividades religiosas. Poucas pessoas têm um compromisso real
com o Senhor, entregaram de fato suas vidas a Cristo. Esse encontro com o Jesus
é algo marcante na vida de uma pessoa, e a modifica existencialmente. Isso
porque seu fundamento é o amor, não as obrigações que são impostas por um grupo
de religiosos. Isso fez com que Paulo considerasse tudo como refugo, skubala em
grego, que pode ser traduzido como “excremento, esterco”. Aquilo que os judaizantes
achavam que valia muito, Paulo considerava coisa de menor importância. Não
podemos esquecer que as nossas obras, diante de Deus, não passam de trapos de
imundície (Is. 64.6). A justificação, ansiosamente buscada pela religiosidade
humana, somente pode ser obtida através de Cristo (Fp. 3.9). A obra de Cristo,
não as nossas obras, nos conduzem ao céu, o sacrifício que Ele realizou na cruz
(Jo. 7.1-4; 19.30; Hb. 10.11-14).
CONCLUSÃO
O evangelho de Cristo não pode ser confundido com a
religiosidade humana. Isso porque ser cristão é um conhecimento, não apenas
intelectual, mas um kinoskein em grego, ou yadá em hebraico. Isto é, uma
entrega incondicional pela fé ao senhorio de Jesus, uma disposição para viver e
morrer por Ele. Nesse contexto, sofrer por Cristo torna-se um privilégio,
também uma identificação com Sua vida, morte e ressurreição, que nos antecipa a
glória futura que em nós haverá de ser revelada (Rm. 8.18; Fp. 3.10).
ELABORADO POR: Profº. Ev. José Roberto A. Barbosa
BIBLIOGRAFIA
LOPES, H. D. Filipenses. São Paulo:
Hagnos, 2007.
WIERSBE, W. W. Philippians:
be joyfull. Colorado: David Cook, 2008.
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