Texto Áureo: Pv. 1.7
Leitura
Bíblica: Pv. 1.1-6
Ao longo deste trimestre estudaremos os livros
sapienciais de Provérbios e Eclesiastes. Esses dois textos bíblicos tratam a
respeito da sabedoria, não a dos homens, mas a de Deus. Na lição de hoje
faremos uma apresentação panorâmica desses livros, destacando sua importância
não apenas no cenário judaico, mas principalmente no cristão. A leitura
centralizada no evangelho dessas orientações fará com que homens e mulheres
sejam sábios, sobretudo tementes a Deus.
1. A SABEDORIA DOS HOMENS E A
SABEDORIA DE DEUS
O conhecimento e a sabedoria sempre cativaram os
seres humanos, a investigação a respeito das coisas é justamente a origem da
filosofia. Esse ramo do conhecimento humano trata da possibilidade do
conhecimento, e também do próprio conhecimento da realidade. O termo filosofia
vem da junção de duas palavras grega, filo (amigo) e sofia (sabedoria). Os
filósofos, por conseguinte, são amantes da sabedoria. Os gregos se destacaram
por serem versados na filosofia, entre eles estiveram grandes filósofos, tais
como Platão e Aristóteles. O conhecimento filosófico, nos dias atuais, está
desassociado da revelação bíblica. Antigamente, nos tempos de Agostinho, havia
uma relação profícua entre filosofia e teologia. Mas com o advento do
Iluminismo, a Era da Razão, o pensamento humano se desvinculou da revelação.
Essa é a principal diferença entre Filosofia e Teologia Crista, enquanto que a
primeira se baseia na mera razão, a última está alicerçada na revelação. Na
Bíblia a palavra sabedoria também tem um significado primordial, tanto no
Antigo quanto no Novo Testamento. A palavra hebraica hokmah diz respeito ao
conhecimento intelectual, e tem a ver, por exemplo, com a compreensão (Pv.
10.23). A fonte da sabedoria, nos livros sapienciais, é o próprio Deus (Jó
28.20-23). O salmista, bem como os autores dos Provérbios, assume que o temor
ao Senhor é o princípio da sabedoria (Sl. 111.10). Esse tipo de sabedoria, na
perspectiva judaica, precisa ser diferenciado do simples conhecimento. Isso
porque a sabedoria é uma aplicação prática, daqueles que atentam para os
conselhos de Deus (Pv. 13.10). O capítulo 8 de Provérbios é um arauto à
sabedoria divina, pois antes mesmo da criação, a sabedoria já se encontrava com
Deus (Pv. 8.22-31). No Novo Testamento, o termo grego para sabedoria é sophia,
que também denota a capacidade para a compreensão (At. 6.3), mas diferentemente
da sabedoria dos homens, que é falsa (Cl. 2.23), a de Deus é dada pelo Espírito
(I Co. 2.5-16). A sabedoria de Deus é o próprio Jesus, nEle repousa a plenitude
da revelação de Deus, a mensagem da cruz é loucura para os homens. Mas Deus
destrói a sabedoria dos sábios, no Cristo Crucificado se encontra a ápice da
mensagem divina (I Co. 1.17-19; 2.1-2; ; Hb. 1.1-3).
2. O LIVRO DE PROVÉRBIOS: O PRINCÍPIO
DA SABEDORIA
O livro de Provérbios mostra que a sabedoria
voltada para Deus é condição fundamental para viver. O livro, em linhas gerais,
pode ser assim dividido: o valor da sabedoria (Pv. 1.1-1.7), conselhos de um
pai sobre a vida (Pv. 1-9), os princípios de sabedoria para a vida piedosa (Pv.
10-24), os princípios de sabedoria para relações saudáveis (Pv. 25-29), a
humildade, a vida justa, o aprendizado com a sabedoria (Pv. 30), e a descrição
da mulher virtuosa (Pv. 31). O livro de Provérbios foi compilado por volta de 950
d. C. O tema central do livro são as escolhas que as pessoas fazem na vida,
para alguns ter uma vida boa é desfrutar de prazer, para outros, é servir e
temer a Deus. O autor, Salomão, filho de Davi, destaca seu propósito em Pv.
1.2-6, destacando a importância de buscar a sabedoria, para viver bem. Certo
pensador bem destacou que ler provérbios é fácil, toma apenas alguns segundos,
memoriza-los também, em minutos, mas vive-los leva a vida toda. O
versículo-chave de Provérbios se encontra em Pv. 1.7, no qual nos deparamos com
a máxima: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria”. A expressão “o temor
do Senhor”, nos livros de sabedoria, significa que devemos amar a Ele, não ter
medo. João, em sua Epístola, já destacou que o perfeito amor retira todo medo, no
amor não há terror, antes obediência (I Jo. 4.18). O capítulo 3 de Provérbios
destaca os conselhos de um pai para seu filho, ele alerta quanto aos perigos da
vida, especialmente sobre a sexualidade. O principal conselho se encontra em
Pv. 3.5,6, a fim de que o filho confie no Senhor de todo coração, e que não se
fundamente no seu próprio entendimento. No capítulo 8, dois caminhos da vida
são personificados, um através da sabedoria, o outro pela tolice. No capítulo
10 Salomão trata a respeito de vários aspectos da vida, e dá conselhos
diversos, principalmente para os momentos de tomada de decisão. O livro de
Provérbios ressalta a limitação do conhecimento humano (Pv. 14.12). O sucesso,
nesse texto sapiencial, nada tem a ver com os cursos de motivação oferecidos no
mercado. Ter êxito, para o homem e a mulher piedosa, significa confiar em Deus
(Pv. 16.20-22). Ao longo do livro há conselhos diversos, a respeito do controle
das emoções (Pv. 16.32). Tal como em Gl. 5.22, a maturidade é resultante do
equilíbrio, da observância de algumas virtudes, produzida no relacionamento com
Deus. O domínio da língua é importante nos conselhos de Provérbios, pois mesmo
o tolo passa por sábio ao ficar calado (Pv. 17.28). O relacionamento amoroso
também tem seu lugar nesse livro, aqueles que encontram um cônjuge, recebem o
favor de Deus (Pv. 18.22). A natureza da vida humana também é discutida em
Provérbios (Pv. 20.27). A relevância da orientação aos filhos, ensinando-os no
caminho justo, é um procedimento sábio (Pv. 22.6). O capítulo 25 inicia uma
segunda coleção de Provérbios de Salomão, a respeito de assuntos diversos. Em
Pv. 28.27 aprendemos que nenhum homem é uma ilha, que todos estamos
interligados. Por isso, devemos nos preocupar com aqueles que se encontram em
condição de necessidade. Os capítulos 30 e 31 tratam a respeito da busca pela
satisfação e da mulher virtuosa. Esse é um livro que deve ser lido e relido, a
fim de crescermos em sabedoria, e para aplicar seus princípios, avaliados
sempre à luz do evangelho.
3. O LIVRO DE ECLESIASTES: SABEDORIA
COMO OBEDIÊNCIA
O Livro de Eclesiastes se destaca por ser o único
livro das Escrituras que reflete um ponto de vista humano, não divino da
existência. Isso não quer dizer que não seja inspirado, o Espírito soprou sobre
o autor, para revelar posicionamentos humanos (II Tm. 3.16,17). Por isso
precisa ser lido com base na revelação de Deus, não como um texto dogmático.
Existem críticos das Escrituras que utilizam as passagens desse livro para
distorcer a Palavra de Deus. Não podemos esquecer que cada aspecto da vida, no
livro de Eclesiastes, é analisado “debaixo do sol”. A visão humana da realidade
é limitada, se encontra em uma perspectiva horizontal, inclusive da revelação
divina. Eclesiastes, como o próprio título o expressa, é o livro do homem da
assembleia, o Qoelet em hebraico. Esse é Salomão, o filho de Davi, rei de
Jerusalém, um homem sábio, que investiga o sentido da vida. O livro pode ser
assim dividido: 1) declaração da inutilidade de tudo (Ec. 1.1-11); 2)
investigações e demonstração da inutilidade da vida longe de Deus (Ec.
1.12-6.12); e 3) conclusão e conselho a “temer o Senhor” (Ec. 7-12). O
versículo-chave de Eclesiastes se encontra em Ec. 1.2, em que está escrito que
“tudo é vaidade”. A palavra “vaidade”, nesse livro, diz respeito à “vanidade”,
isto é, a ausência de sentido em tudo que se faz. O universo, como também é
percebido atualmente pela ciência, é visto como uma engrenagem (Ec. 1.6,7).
Essa visão científica pode reduzir a natureza a um mero maquinário, a ideia de
um motor, como concebido por Aristóteles. A consequência é uma percepção da
vida como conjunto de células, e do universo como um engenho, sem a intervenção
divina. Como a vida é desprovida de significado nesse contexto, o autor do
Eclesiastes pensa que o prazer pode ser a única coisa que faz sentido (Ec.
2.1). Ou, quem sabe, as posses, as riquezas materiais, algo que tem sido
amplamente aceito na sociedade moderna (Ec. 2.9,10). Até mesmo o conhecimento
não passa de vaidade, pois ao final, os diplomas ficarão na parede, a única
coisa que permanece é a sabedoria (Ec. 2.13-17). No capítulo 3, a semelhança
dos filósofos modernos, tais como Neitzche, Heidegger e Sartre, o pensador
existencialista adere ao fatalismo. O vazio o levou à conclusão que somente pode
viver no tempo, para o qual tudo tem um propósito (Ec. 3.1-4,11). Nos capítulos
4 e 5 o pensador lamenta a opressão que visualiza no mundo dos negócios, e que
até mesmo a religião não faz sentido. Nos capítulos 6 e 7 o homem da assembleia
constata que o rico não encontra satisfação no que tem, e que a felicidade e a
tristeza são as mesmas coisas, que o rico e o pobre perecem de igual modo (Ec.
7.15). No restante do livro, dos capítulos 8 a 10, Salomão avalia que apesar
dos nossos esforços, a vida é extremamente injusta, e desprovida de
significado.
CONCLUSÃO
O final do livro de Eclesiastes ecoa com o tema do
livro de Provérbios, a máxima que somente o temor do Senhor é verdadeira
sabedoria. Ao avaliar todas as coisas “debaixo do sol”, o homem da assembleia
conclui que precisamos “lembrar do Criador” e que temê-LO é o dever de todo
homem (Ec. 12.13,17). O sentido da vida, nos livros de Sabedoria, está
justamente em temer, e amar o Senhor, em obediência, fora a isso, a vida é pura
vaidade, é “correr atrás do vento”.
ELABORADO POR Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa
BIBLIOGRAFIA
ATKINSON, D. The
message of Proverbs. Leicester: Inter-Varsity Press, 1996.
DEREK, K. A mensagem de
Eclesiastes. São Paulo: ABU Editora, 1989.
Nenhum comentário:
Postar um comentário